A estrela fortificada que dá forma a Almeida não deixa ninguém indiferente. Para além da sua beleza e imponência, é um dos melhores exemplos de fortaleza regular abaluartada no nosso país. Fique a conhecer todos os seus detalhes neste texto que serve de autêntico convite a uma visita merecida a este território na fronteira beirã.
Almeida é uma praça-forte a perpetuar e a reação que continua, ainda hoje, a provocar no visitante é de admiração. Facto que lhe advém, principalmente, da grandiosidade das suas muralhas de pedra, “basta, termos presentes o somatório do perímetro muralhado, com cerca de quatro quilómetros e meio, multiplicado por uma altura média na ordem dos sete metros para os reparos, o que nos dá uma área de alvenaria de granito que atinge os 30000 metros quadrados de construção”. A fortaleza abaluartada representa, por isso, “no panorama das fortificações abaluartadas portuguesas, derivado da sua peculiar geometria, o mais elevado esforço construtivo de uma praça-forte portuguesa. (Campos: 2009, 180, 181).
A configuração integral que ela nos apresenta é a de um traçado quase regular, hexagonal, materializado em seis baluartes e seis meias-luas, que se desenvolvem rodeadas por uma admirável cintura de fossos com caminho coberto, impressionante pela sua grande dimensão, aferida pelos seus 64 hectares de superfície global, incluindo os Glacis – 4,5Km de caminho coberto e 2,5 km de caminho de ronda.
Preconiza-se como uma incrível máquina de guerra, contabilizando-se nas suas muralhas um total de mais de 100 canhoeiras nos parapeitos e nas plataformas para morteiros e paióis subterrâneos.
Dada a sua função defensiva de vital importância, principalmente desde D. Manuel ao século XIX, foi merecedora de um naipe de especialistas de charneira na prática e tratadística militar, embora o seu traçado resulte de influências várias, fruto da meia centena de engenheiros que contabilizamos terem trabalhado na Praça. Tal facto é de uma inegável contemporaneidade dentro da fortificação dita clássica.
É um dos primeiros grandes sucessos no campo da fortificação abaluartada regular do século XVII e, por isso mesmo, desde a saída do último esquadrão de cavalaria da Praça-Forte em 1927, que a sua função se transformou numa outra: a de MONUMENTO NACIONAL.
Há muitas e variadas maneiras de conhecer a arte de fortificar e os encantos que a Praça-Forte de Almeida encerra. Passear nos seus baluartes, para além de um privilégio, pela serenidade inspiradora do seu entorno, é conhecer o percurso cronológico da sua construção, é ler em campo aberto a tratadística militar portuguesa e europeia dos séculos XVII/XVIII.
Para complementar a visita, o turista pode, ainda, recorrer à inovadora aplicação “Conhecer Almeida” que permite ao turista/utilizador fazer vários percursos, cuja informação sob a forma de vídeo, imagens ou áudio, devidamente contextualizada, é determinada pela sua localização, interesse e perfil, permitindo-lhe uma visita autónoma e experienciada. Também possui a funcionalidade de georreferenciação, realidade aumentada e virtual, som e vídeo 3D, gamificação e visitas inclusivas.
O Museu Histórico Militar de Almeida e o CEAMA enquanto arautos da Fortificação Abaluartada:
Outra forma de descobrir os encantos e a História da Vila de Almeida é fazer uma visita ao Museu que se localiza no Baluarte de S. João de Deus. O edifício é um dos mais emblemáticos da Praça-forte. Esta impressionante construção presenta um elevado valor projetual, com um vasto programa construtivo de cerca de 2 500 m2. No seu interior tem 20 compartimentos abobadados, ladeando um corredor de acesso e um pátio central, configuração que corresponde – no essencial – ao piso térreo do projeto de Manuel de Azevedo Fortes (1736).
O Museu Histórico Militar de Almeida (MHMA), aberto ao público desde 30 de agosto de 2009, é tutelado pelo Município e é resultante de um trabalho conjunto entre a Câmara Municipal e o Exército Português, através da Direção da História e Cultura Militar e do Museu Militar de Lisboa. Insere-se na tipologia de “Museus Históricos”: é um museu monográfico de temática militar, dividido por núcleos de índole cronológica, abarcando uma linha temporal que se designa de “Origens” até à “I Guerra Mundial”, sendo que, em cada sala/cronologia, é particularizado o caso de Almeida e das Armas, dos homens e dos factos que fizeram a Fronteira. Passaram pelo Museu 170 778 visitantes.
Embora, tendo como principal missão estudar, conservar e divulgar as suas coleções, dedica-se de forma muito particular ao estudo e divulgação do património militar e cultural do território, especificamente ao caso da Fortaleza de Almeida, cingindo-se, de forma muito particular, aos seus atributos, em articulação com a coleção que o Museu exibe.
Assim, cumpre-lhe contextualizar, de forma clara, rigorosa e cativante, a Fortificação, encarando-a como um dos objetos principais da sua razão de ser, procurando fomentar o interesse e a curiosidade sobre táticas de guerra, motivando à compreensão do significado da história militar relacionada com as diferentes arquiteturas militares e a armaria.
Uma visita ao Museu é um sem fim de experiências e sensações emanadas por um edifício que cumpriu, ao longo da sua “vida”, várias funções, desde aquartelamento militar, prisão e porto de abrigo da população, durante os vários assédios que a Praça sofreu. Em tempos de paz serviu de armazenamento para os materiais necessários à máquina de Guerra. Hoje, em tempos de incerteza, cumpre um dos mais importantes papéis da sua existência, instruir para acautelar que os mesmos erros do passado não se repitam, ou seja, educar para a paz.
O Centro de Estudos de Arquitetura Militar de Almeida
O CEAMA abriu portas em abril de 2007, na Casa da Guarda das Portas Exteriores de Santo António. Desde então, os dois espaços, dispostos de um e outro lado do trânsito, têm vindo a assumir funcionalidades diferentes, mas convergentes na sua missão, ao contribuírem de forma rigorosa e instrutiva para o estudo e salvaguarda do património histórico e militar.
A investigação e posterior divulgação fazem, por isso, parte da missão do CEAMA, enquanto Centro de Estudos de Arquitetura Militar de Almeida reflexão e debate do MHMA. Ambos (Museu e Centro de Estudos), dentro das suas competências, responsabilizam-se, em larga medida, pela preservação do património da Fortaleza de Almeida, estudando e divulgando os resultados desta investigação. Assim, contribuem, eficazmente, para o conhecimento da arquitetura militar, com relevo para o abaluartado e para o papel desempenhado na questão das fronteiras nacionais, e para a sua salvaguarda.
O CEAMA, em 2021, entrou no 15º ano de existência, culminando com a edição de três números do total de 25, da revista CEAMA.
Tal facto significa para o promotor, Município de Almeida, para o CEAMA e para o MUSEU HISTÓRICO MILITAR DE ALMEIDA, fazendo parte da mesma estrutura orgânica, grande motivo de orgulho e regozijo. Deste modo, mostram um esforço e resiliência, sem paralelo, no quadro nacional, face aos resultados gerados, dado o contributo de grande relevo para o conhecimento da temática do próprio Museu e da Fortificação em Portugal e no Mundo.
A Praça-Forte de Almeida e a Rota das Fortificações Abaluartadas da Raia, um projeto de futuro
Almeida integra a rota das Fortalezas Abaluartadas e com a Fortaleza de Elvas, Marvão a Valença almeja um merecido reconhecimento, primeiro do Estado Português e depois um reconhecimento Internacional da UNESCO. Isto porque, para além de conjuntamente representarem a conformação da Fronteira mais antiga do Mundo, representam a história militar de um povo que soube responder e renovar-se perante constantes desafios que lhes foram sendo impostos pelas condicionantes políticas, militares e de engenharia ao mais alto nível. A candidatura das Fortalezas Abaluartadas da Raia, ao atingir o seu objetivo, que é o da Classificação de um Bem Universal, significará um reconhecido esforço de mais de uma década de caminho, estudo apurado e técnico, no sentido da valorização patrimonial e do interior do país há muito esquecido e que, outrora, desempenhou um papel preponderante na defesa da integridade Nacional.
A par desta candidatura, o projeto: Rota das Fortalezas Abaluartadas da Raia, inserido numa candidatura apresentada à Linha de Apoio à Valorização do Interior do Programa Valorizar do Turismo de Portugal, consiste na criação de um efetivo produto turístico assente neste recurso patrimonial único, permitindo a visitação de cada uma destas Fortalezas, de forma consistente e marcante mas, também, potenciando a visitação integrada deste conjunto de quatro Fortalezas e de todos os recursos complementares existentes em torno delas e entre ela.
Envolve, entre outros, a criação de quatro Centros de Interpretação em cada um dos municípios envolvidos, a criação de uma Rota Temática, que agrupa os diferentes polos do Projeto, a criação de ferramentas de experimentação turística, a criação de branding associado, contemplando o desdobramento da marca em vários suportes comunicacionais (site, folheto, vídeo, merchandising).
Concluída agora esta primeira fase do projeto, são duas as dimensões de desenvolvimento futuro que nos aguardam: por um lado, o reforço do investimento na densificação do produto turístico, nas ferramentas de interpretação patrimonial, na educação patrimonial com as escolas do território, assim como na capacitação dos agentes interessados em explorar este tema tão rico. Por outro, o início de uma estruturação institucional deste consórcio, com abertura a outros municípios interessados, dando passos seguros na criação de um organismo dedicado, em exclusivo, às potencialidades turísticas, culturais, económicas e sociais inerentes ao património abaluartado da Raia.
Importa, ainda, ter presente o potencial ibérico, e mesmo internacional, desta temática, sendo uma evidência o interesse da relação espelho com o outro lado da fronteira, mas, também, os derivativos arquitetónicos ainda permanecentes em países por onde Portugal, efetivamente, passou ou, mesmo, se estabeleceu.
A Rota das Fortalezas Abaluartadas da Raia, da qual Almeida é município fundador, é, assim, fonte significativa de intercâmbio cultural, enriquecimento de conhecimentos e alargamento de perspetivas.