EDITORIAL – EDIÇÃO 2 | MARÇO 2023

EDITORIAL – EDIÇÃO 2 | MARÇO 2023

Talvez haja tanto a unir como a separar os caminhos de que falamos nesta edição. Os Caminhos de Santiago são, desde a idade média, dos mais percorridos percursos por peregrinos de todo o mundo. Se no início eram sobretudo motivados pela fé, hoje são muito diversos os motivos que levam as pessoas a fazê-los, partindo dos mais variados pontos de Europa. Pela nossa proximidade geográfica e relações históricas e culturais profundas com a Galiza, estes caminhos acabam por se revestir de grande importância também para o nosso país. E são muitos os viajantes internacionais que aterram em Portugal e iniciam aqui o seu percurso a pé até Santiago de Compostela. Só por aqui se perceberia facilmente a relevância turística de valorizar a existência de caminhos, albergues e outras valências nos diversos municípios do nosso país.  

Os outros caminhos que aqui trazemos são, naturalmente, os de Fátima. Estes muito mais recentes, claro, já que o fenómeno começou há pouco mais de 100 anos, na Cova da Iria. Também por esse razão, estes caminhos são muito mais associados estritamente à fé católica, e ao cumprimento de promessas, do que os de Santiago. Há, no entanto, passos já dados no sentido de proporcionar uma ligação entre espiritualidade, cultura e natureza, conferindo a estes percursos uma vivência que permita o enriquecimento cultural de quem os percorre. Naturalmente, esta abertura do conceito permite que mais pessoas se sintam motivadas a percorrer estes caminhos, independentemente da sua religiosidade.

Com Santiago de Compostela a distar pouco mais de 100 quilómetros da fronteira norte portuguesa, e com Fátima praticamente no meio do país, o cruzamento ou a partilha de percursos por peregrinos dos dois destinos é algo perfeitamente natural. Como iremos perceber por aquilo que nos é revelado por cada um dos municípios presentes nesta edição.

Nunca tendo feito qualquer um destes percursos a pé, tive a oportunidade de presenciar as chegadas de vários grupos de peregrinos num e no outro destino. Sem me alargar em comentários que não me cabe a mim fazer, posso apenas arriscar afirmar que as suas expressões pareciam indiciar que descobriram no caminho algo mais do que apenas a vontade de chegar ao destino ou o alívio da promessa cumprida.

São lugares-comuns – “o caminho é mais importante do que o destino” ou “o maior caminho é o interior” – por mais que as bolhas nos pés e as dores nas articulações lhes lembrem, pragmaticamente, cada passo percorrido.

Dito isto, a pretexto destes caminhos, convidamo-lo a fazer o seu, ao longo destas páginas. E, se não for a pé, nem por qualquer motivação superior, que se sinta tentado a conhecer algum destes pontos de passagem onde encontrará motivos de interesse que justifiquem, por si só, uma visita.

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