“AS MEMÓRIAS DE UM PASSADO VIVO”: EM LOULÉ A HERANÇA ISLÂMICA ESTÁ VIVA!

“AS MEMÓRIAS DE UM PASSADO VIVO”: EM LOULÉ A HERANÇA ISLÂMICA ESTÁ VIVA!

Calcorreando a Zona Histórica de Loulé, a herança islâmica é visível em cada canto e recanto, por entre as ruas estreitas e as casas caiadas de branco. Loulé, cidade de origem mourisca, manteve a sua essência ao longo dos séculos, e é hoje um ponto de visita obrigatório para quem quer conhecer melhor a história e cultura do Sul do país.

“Indissociável desse legado, o Festival MED é uma referência no roteiro dos festivais de world music da Europa, que teve o mérito de dar um significativo contributo para a dinamização e projeção do casco antigo da cidade, mostrando os verdadeiros tesouros patrimoniais que aqui existem e estimulando a sua preservação. Na sua génese está a promoção da cultura e música dos países da Bacia do Mediterrâneo, e como tal, o ambiente mediterrânico que se respira neste espaço da cidade faz com que tenha sido escolhido como o “palco natural” do MED.

Anualmente, no final do mês de junho, as músicas do mundo, mas também outras manifestações culturais como o cinema, teatro, artes plásticas, poesia, folclore, artes performativas, invadem a “cidade antiga”. Os cheiros, cores e sabores de lugares longínquos misturam-se, em cada ponto do espaço público, com os elementos vivos da história de Loulé. Do rico património edificado que aqui se encontra destacam-se o Convento Espírito Santo, a Igreja Matriz, o Castelo ou os Banhos Islâmicos de Loulé, edifícios que permitem um enquadramento perfeito para que o público viva o verdadeiro espírito deste festival multicultural.

Essa ligação ao passado árabe não passa despercebida na programação do MED e, por exemplo, ao nível musical, a presença de artistas de países como Tunísia, Marrocos, Síria, Argélia ou Mauritânia, tem permitido resgatar essa herança. Por outro lado, em 2024, aquando da celebração dos 20 anos do Festival MED, Marrocos teve a honra de ser o primeiro “País Convidado”, com lugar de destaque neste palco mostrando a sua música, artesanato, gastronomia, literatura e outras vertentes culturais. No Claustro do Convento do Espírito Santo foi recriado um Souk, e durante estes dias os visitantes tiveram a oportunidade de vivenciar o verdadeiro ambiente do Magreb. Marrocos é um território que está aqui tão perto mas, para além das fronteiras geográficas, há ainda muito a aprofundar desse legado árabe neste território e na identidade cultural de Loulé.

A aproximação de Loulé a este país do Norte de África tem vindo a dar passos significativos nos últimos anos, em especial desde que foi encetado o processo de musealização dos Banhos Islâmicos de Loulé, uma das joias do património histórico da cidade. No local onde hoje se localiza o espaço museológico dos Banhos Islâmicos de Loulé e Casa Senhorial dos Barreto existia um edifício, quase arruinado. Foi adquirido pela Câmara Municipal de Loulé em 2006 e assim começou a ser escrita a história do espaço museológico. Inaugurado em 2022, este sítio musealizado apresenta duas importantes descobertas arqueológicas.

A primeira, as estruturas de uma casa senhorial do séc. XV, cujo estudo revelou ter pertencido à família Barreto (senhores do Morgado de Quarteira, a mais importante família nobre do concelho de Loulé). A segunda, sob os alicerces desta casa, soterrada por centenas de metros cúbicos de terra, um bem preservado complexo de banhos públicos de época islâmica (equipamento essencial para a sociedade da época pelas funções religiosas e sociais que desempenhava), único do seu género documentado arqueologicamente no território nacional. O Hammam (Banhos Islâmicos) de Al-‘Ulyà (Loulé) terá sido construído entre inícios e meados do século XII, pouco tempo depois da muralha da cidade. A sua localização explica-se pela necessidade de colocar este equipamento público perto de uma das portas da cidade e pela existência de água permanentemente disponível.

O edifício, semienterrado para melhor preservar o calor, dividia-se em 5 áreas: vestíbulo, sala fria, sala tépida, sala quente e compartimento da fornalha. A área musealizada visível inclui as salas fria, tépida e quente, organizadas em três naves paralelas de planta retangular, de dimensões idênticas, com cerca de 30m2 cada. A museografia do espaço foi desenhada por uma equipa multidisciplinar, que acompanhou a obra, procurando salvaguardar e valorizar estes dois edifícios singulares, os objetos que daí foram extraídos e as comunidades que deles usufruíram.

Após a classificação dos Banhos Islâmicos de Loulé como Monumento Nacional, o espaço museológico dos Banhos Islâmicos e Casa Senhorial dos Barreto, localizado no centro histórico de Loulé, é hoje uma mais-valia para a cidade, para o município e para a região. O Município de Loulé tem apostado ao longo das últimas décadas nas artes e ofícios tradicionais, preservando técnicas ancestrais que refletem a sua herança árabe e mediterrânica. Esse é, de resto, um dos propósitos do projeto “Loulé Criativo”, iniciativa que aposta na valorização da identidade deste território, tendo como força motriz a criatividade e a inovação.

Apoia a formação e atividade de artesãos e profissionais do setor criativo, contribuindo para a revitalização das artes tradicionais e para dinamização de novas abordagens ao património imaterial. Este projeto promovido pela Câmara Municipal de Loulé pretende prestar um conjunto de serviços, aos residentes e visitantes, que proporcionem uma adequada e atualizada formação nas artes e ofícios tradicionais, a introdução contínua da inovação nos produtos e processos de trabalho dos profissionais, condições para a investigação nas artes e ofícios e temas relacionados, o apoio à instalação e negócio de artesãos e profissionais do sector criativo ajustado às suas necessidades, um programa de residências artísticas e criativas que seja mobilizador da massa crítica internacional, uma oferta dinâmica e atrativa de experiências criativas que coloquem os turistas em contacto com os aspetos singulares da identidade e património regional baseadas na filosofia do “do it yourself”, uma programação cultural que promova eventos relacionados com o tema da criatividade, do património, das artes e dos ofícios.

A Rede de Oficinas do Loulé Criativo é constituída por espaços/oficinas, que pretendem manter vivas atividades marcantes para a cidade e para o concelho de Loulé, contribuindo para valorizar e promover a identidade local. No Centro Histórico de Loulé podemos encontrar algumas delas: a Casa da Empreita, a Oficina dos Caldeireiros e a Oficina do Barro. A destreza das mãos das artesãs que trabalham a empreita, o som do martelar do senhor Analíde no cobre para dar forma a uma cataplana ou o cheiro a barro emanado da roda do oleiro Xavier constituem hoje elementos desse passado que está bem vivo na cidade de Loulé.

www.cm-loule.pt

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