“GERAÇÃO DE 60”: DIANA ANDRINGA RESGATA A MEMÓRIA DOS QUE OUSARAM RESISTIR

“GERAÇÃO DE 60”: DIANA ANDRINGA RESGATA A MEMÓRIA DOS QUE OUSARAM RESISTIR

Já está disponível nas livrarias “Geração de 60”, o novo livro da jornalista e documentarista Diana Andringa, que reúne cerca de uma centena de testemunhos de protagonistas da década que alterou profundamente o curso da história portuguesa contemporânea.

São 480 páginas que recuperam episódios esquecidos ou silenciados, confrontando a narrativa oficial da ditadura com as vozes daqueles que, muitas vezes na sombra, resistiram nas ruas, nas universidades, nas colónias, nos quartéis e até nos cárceres da PIDE. O livro nasceu de um projeto inicialmente pensado para televisão, nos anos 80, e que acabou por nunca se concretizar. Diana Andringa concebera, então, uma série documental para a RTP sobre a geração que viveu os anos 60 sob ditadura. Mais de quatro décadas depois, a jornalista recupera esse impulso e dá-lhe corpo em formato editorial, cruzando depoimentos inéditos com documentos de época, numa abordagem que alia a investigação histórica à sensibilidade de quem viveu os acontecimentos por dentro.

A década de 60 é, para a autora, um momento de rutura e tomada de consciência. Um tempo em que o mundo se transformava, com o Maio de 68, os movimentos de libertação nacional, a contestação à guerra do Vietname e a luta pelos direitos civis, enquanto Portugal permanecia preso a um regime autoritário, conservador e repressivo. Através de testemunhos diretos e da reconstituição de acontecimentos marcantes, como a fuga de Peniche, as crises académicas de 1962 e 1965, o desvio do paquete Santa Maria, o Golpe de Beja, o assassinato de Humberto Delgado, a repressão nas ex-colónias e as cheias de 1967, o livro oferece uma leitura alternativa da História recente do país, centrada na experiência dos que ousaram pensar, agir e desafiar o medo.

“Foi uma desforra pela ignorância a que, então jovens, tínhamos sido condenados”, escreve a autora, que nasceu em Angola em 1947 e se radicou em Portugal em 1958. Diana Andringa viveu em primeira mão o ambiente opressivo da ditadura. Em 1970 foi presa pela PIDE, acusada de envolvimento com movimentos anticoloniais. Abandonou o curso de Medicina para se dedicar ao jornalismo e construiu uma carreira que passou pela imprensa escrita, rádio e televisão. Trabalhou no Diário de Lisboa, Diário de Notícias, RDP e RTP, sendo reconhecida hoje como uma das vozes mais lúcidas do jornalismo português. Desde 2001 dedica-se sobretudo à realização de documentários, com especial foco na memória histórica e na descolonização.

Entre as suas obras anteriores destacam-se os documentários Tarrafal: Memórias do Campo da Morte Lenta (2006), Operação Angola: Fugir para Lutar (2015) e O Tempo e o Lugar (2023), bem como os livros Funcionários da Verdade (2014) e Joaquim Pinto de Andrade: Uma quase autobiografia (2017).

Com Geração de 60, Diana Andringa reafirma o seu compromisso com uma História feita de múltiplas vozes, longe dos silêncios impostos pelo medo e pela censura. A obra é publicada numa altura em que o debate sobre a memória da ditadura e da resistência antifascista volta a ganhar atualidade — não apenas como evocação do passado, mas como reflexão sobre o presente e os desafios à democracia.

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