Chega agosto, a praia pulsa com cheiros de protetor solar e promessas de descanso. No meio da areia quente ergue-se uma baliza azul, desafiante, como se pedisse a cada veraneante: “vens jogar ou vais só olhar?”. Não há linhas desenhadas nem marcador de tempo, só a vontade de transformar, por instantes, o areal num campo de encontros, improviso e gargalhadas.
Com o mar por pano de fundo, a bola roda entre amigos, família, desconhecidos. Uns chegam por acaso, outros esperam por este momento o ano inteiro. O início é sempre desorganizado, mas o importante é participar, colecionar lançamentos tortos e celebrar cada golo como se fosse a final da taça.
Crianças disputam a vez com adultos, tias que nunca jogaram arriscam um remate e rapidamente contestam o guarda-redes, porque “aquilo foi falta claríssima”. Não há árbitro, ou melhor, todos arbitram. E há sempre quem traga um chapéu para marcar “a grande área”.
Com as horas mais quentes, o jogo entra em compasso de espera. Surge a pausa das merendas, o garrafão de água dado a rodar, a sombra disputada democraticamente entre jogadores e adeptos improvisados. Quando a bola se esconde na areia, arranjam-se novos campeonatos: de saltos para a água, de quem apanha mais conchas ou de quem faz a melhor imitação do vendedor de bolas de Berlim.
Os jogos terminam tantas vezes por cansaço, pelo chamado irresistível de um mergulho ou pelo eco das mães a chamarem para o lanche. Mas ninguém vai embora sem aquela sensação de missão cumprida, sem areia entre os dedos dos pés e um sorriso impossível de disfarçar.
Ali, entre a formalidade da vida e a leveza das férias, aprendemos que improvisar é importante, que as regras podem ser combinadas na hora e que ganhar é poder contar a história. E quando alguém se entusiasma demasiado, o grupo lembra que perder não custa quando se joga à beira-mar com amigos e desconhecidos. Aquilo que levamos para casa não são troféus, mas memórias partilhadas, sempre que possível, ao sol.
Num país onde gostamos de discutir tudo, até as regras de um jogo sem linhas, talvez seja isso que define o verão português: a capacidade de, juntos, nos rirmos da seriedade, e de levarmos a brincadeira a sério.