Portugal já tem uma indústria de Aeronáutica, Espaço e Defesa consolidada. Uma indústria que concebe, fabrica e integra soluções com valor acrescentado: navios, satélites, aeronaves, sistemas autónomos e tecnologias críticas, como materiais avançados, comunicações, ciberdefesa ou software. Temos hoje campeões que arrastam consigo o ecossistema baseado numa rede de PMEs. E centros de investigação e universidades que asseguram inovação e talento. Mas, naturalmente, ainda não temos tudo o que é necessário. Falta-nos ganhar escala na produção e na inovação.
Cada vez mais devemos apostar em programas de I&D mais direcionados à realidade das nossas empresas, e participar de forma mais concertada nos grandes programas internacionais, como o Fundo Europeu de Defesa. Por outro lado, é fundamental que saibamos posicionar-nos estrategicamente no quadro das colaborações industriais com os principais atores das cadeias de fornecimento globais. Caso nos limitemos a realizar aquisições diretas junto dos nossos parceiros, estaremos apenas a transferir recursos financeiros para o exterior, sem assegurar a devida captura de valor económico para Portugal. Aqui, há uma separação de águas clara: o que é uma decisão política e militar, e o que é uma visão industrial.
O nosso papel é claro: maximizar a compra em Portugal sempre que possível, e negociar parcerias que integrem a nossa indústria nas cadeias internacionais para aquisições internacionais. Europeus ou não, o mais relevante é a abertura e a vontade de criar relações duradouras que tragam retorno real ao país. Quem ganha com isto não é a indústria da Defesa, quem ganha é Portugal e os portugueses. Ganhamos quando criamos emprego altamente qualificado, quando transferimos tecnologia para outros setores, quando reforçamos a soberania científica e económica.
E como o temos de fazer? Só há uma resposta: juntos. Não temos dimensão para outra abordagem. Precisamos de concertação entre decisores políticos, forças armadas, indústria e centros de investigação, com uma visão de médio e longo prazo. O setor está organizado, sabemos o que temos e para onde queremos ir. O que falta é trabalharmos em conjunto para transformar despesa em investimento, e investimento em desenvolvimento económico e futuro para Portugal.
Por José Neves, Presidente do AED Cluster Portugal

