EDITORIAL – EDIÇÃO 15 | DEZEMBRO 2025

EDITORIAL – EDIÇÃO 15 | DEZEMBRO 2025

Há pouco mais de três anos chegava às bancas a primeira edição desta revista. Escrevi na altura que queríamos “mesmo divulgar o melhor de Portugal. Despretensiosamente esperamos consegui-lo, e fazemo-lo nesta edição inaugural com uma capa de rara beleza que nos remete para o ‘conto de fadas’ que a paisagem de Sintra é.” Curiosamente, nesta décima quinta edição regressamos a Sintra, e a uma capa “Mágica” que nos remete para as luzes desta época, que nos confortam nas noites mais longas do ano.

Talvez seja essa a natureza dos regressos, a de nunca coincidirem exatamente com o ponto de partida. Os lugares são os mesmos, mas nós já não somos. E, no entanto, há paisagens e sítios que nos reencontram com a mesma facilidade com que a memória nos devolve a quem fomos, ou às partes de nós que nunca mudam, por mais que tentem.

A verdade é que falar de Portugal implica sempre falar de continuidade. Não no sentido estático do que permanece imutável, mas mais na capacidade sóbria da resistência. A identidade não se limita a um catálogo de monumentos, tradições ou costumes, definindo-se mais pela forma como nos deixamos tocar por eles.

Tal como os rios que desenham vales, também estas paisagens iluminadas de inverno nos ensinam a importância do curso contínuo. É uma marca menos natural, no sentido em que está impregnada da mão humana, e ainda assim reafirma a nossa condição de parte integrante do meio que nos rodeia. Estas luzes de Natal, como a vela que alguém insiste em manter acesa, são uma marca de humanismo que transcende em muito o significado mais consumista desta época.

Três anos depois, continuamos cientes de que divulgar “o melhor de Portugal” não é uma meta, é um processo. E exige a mesma disciplina de quem estuda um mapa antigo ou acompanha um rio até à foz. Observar sem pressa, interpretar sem preconceito, reconhecer que cada território guarda uma narrativa própria. Esta edição segue essa lógica. A capa aponta para Sintra, mas a revista abre-se ao país inteiro, às suas paisagens, às suas comunidades, aos sinais de futuro que se insinuam nos gestos mais discretos.

É esse o compromisso que mantemos e que continuará a orientar-nos. Olhar o país com a dignidade que ele merece, com rigor, com curiosidade, com sentido de responsabilidade. A Portugalidade nasceu com essa intenção e continua fiel a ela. Esta época mais acolhedora, mesmo quando fica mais escura, parece lembrar-nos que vale sempre a pena criar algo bonito e verdadeiro, acender mais uma luz.

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