Ao olharmos para o mapa de Portugal é fácil perceber a posição central que Pampilhosa da Serra ocupa. Conhecida pela beleza das suas aldeias e de toda a natureza envolvente há, no entanto, mais para descobrir nesta terra. E não falamos só das caraterísticas únicas do seu céu estrelado. É que o interior do país, tantas vezes esquecido, tem massa crítica e não desiste de apostar no que é seu (e de nós todos) – foi isso que encontrámos em Pampilhosa da Serra.
À Luz das Estrelas
As Aldeias do Xisto, em Pampilhosa da Serra, possuem uma das paisagens culturais mais distintas do país, usufruindo ainda de um dos céus mais estrelados do mundo. Depois de receberem a certificação internacional de “Destino Turístico Starlight”, em 2019, vários municípios, parceiros do destino Dark Sky Aldeias do Xisto, assinaram o protocolo de cooperação geral do projeto.
Foram 20 os municípios que, com o intuito de potenciar e preservar o céu da região, assinaram, em Fajão, um protocolo de cooperação geral do projeto Dark Sky Aldeias do Xisto. Em 2019, a Fundação Starlight atribuiu ao Dark Sky Aldeias do Xisto a certificação internacional “Destino Turístico Starlight”.
Com este protocolo de cooperação, as entidades envolvidas comprometem-se, entre outras responsabilidades, a estabelecer mecanismos de afirmação do Dark Sky Aldeias do Xisto como Destino Turístico Starlight, a apoiar a sensibilização e a formação dos agentes públicos e privados do território, a contribuir para a preservação do céu noturno e para a melhoria da iluminação pública, tendo em vista o controlo da poluição luminosa.
Para além destes municípios – os únicos que beneficiam com a presença das estrelas no seu território – outras associações juntaram-se neste acordo, tais como a ADXTUR, a Associação Dark Sky, a CIM da Região de Coimbra e o Turismo Centro de Portugal.
Este é um projeto iniciado há 12 anos, em Pampilhosa da Serra, quando, pela primeira vez, foram estabelecidos contactos com a Universidade de Aveiro e, a partir daqui, foi instalada no concelho “uma antena, que faz a medição de uma série de dados espaciais do hemisfério norte”, afirma o Presidente da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, Jorge Custódio. Tal aconteceu aqui, “precisamente, porque a Pampilhosa e esta região têm condições de observação acima da média. Não só porque a poluição luminosa, aqui, é diminuta, em comparação com as grandes cidades”, como também, “o próprio céu tem todas as condições de nitidez e de céu limpo”, complementa.
Em Portugal, o astroturismo tem vindo a captar a atenção de turistas nacionais e internacionais, o que, segundo Pedro Machado, Presidente do Turismo Centro de Portugal, tem permitido a territórios de baixa densidade e do interior colocarem-se lado a lado e até a obter melhor resultados do que destinos turísticos mais “maduros e clássicos”.
Já a Presidente da Associação Dark Sky, Apolónia Rodrigues, relembra que o mais importante é “valorizar, fazer crescer o território e ter sempre presente que tem de haver cooperação, liderança e sobretudo qualidade no produto que é desenvolvido”.
“Ao vir à Pampilhosa, ou a estes 20 concelhos ao redor, conseguem ter todas as potencialidades para a observação do céu. Nós, durante este tempo, mantemos o melhor produto possível a todos os que nos visitam”, enfatiza Jorge Custódio.
“Aldeias Bauhaus para o Futuro” de Pampilhosa da Serra
O projeto “Aldeias Bauhaus para o Futuro” tem como objetivo executar intervenções de inovação ao nível do território, em seis aldeias de seis municípios de Portugal e Espanha. A atuação acontecerá nas regiões Centro, Alentejo e Extremadura espanhola, nomeadamente em Corval, Sortelha, Esperança, Dornelas do Zêzere, Llerena e Moraleja.
A ideia central desta candidatura, distinguida pelo Novo Bauhaus Europeu, e que foi coordenada por Pampilhosa da Serra, assenta no aproveitamento das várias potencialidades das aldeias envolvidas no projeto, bem como das restantes, de uma maneira geral, tornando-as autênticos locais de eleição, seja para visitar, para viver, ou mesmo para investir, mantendo sempre a essência que as carateriza.
Para o Presidente da Câmara Municipal, este projeto é “altamente diferenciador”. Em primeiro lugar, possibilita que todos os intervenientes se sentem à mesma mesa para pensarem e projetarem o que devem ser estas aldeias rurais no futuro. Em segundo, utilizando estas seis aldeias como “projeto piloto”, permite perceber o que pode ser feito de diferente. “De alguma maneira, já podemos, nestas seis aldeias, fazer alguns projetos, em termos de urbanização, do edificado e do desenvolvimento local. Ou seja, compreendermos o que é que, verdadeiramente, pretendemos destas aldeias”. Por fim, “tão ou mais importante”, proporciona a “verdadeira” ligação transfronteiriça entre Portugal e Espanha. “Temos de deixar de olhar só para o litoral e temos de começar a olhar para este interior e para o país que está ao nosso lado, com uma potencialidade enorme”, salienta Jorge Custódio.
Desta forma, a iniciativa “Aldeias Bauhaus para o Futuro” visa mostrar que é possível conseguir melhores condições para quem habita e, assim, despertar a atenção de quem visita. No caso de Dornelas do Zêzere, o Vereador da Câmara Municipal de Pampilhosa da Serra, Rui Simão, divulgou que a intervenção “vai focar-se na zona ribeirinha, espaço do mercado e Jardim das Nogueiras, procurando aplicar os princípios da regeneração urbana sustentável e ligada às memórias que a aldeia tem com o rio”. De acordo com o Vereador, vai ainda “envolver a comunidade educativa, a gestão das expetativas da população, os seniores, não se esgotando na intervenção urbanística pura e dura”.
No encontro de lançamento do projeto, que aconteceu na freguesia de Dornelas do Zêzere, em Pampilhosa da Serra, estiveram reunidos parceiros e municípios – CCDR Centro, CCDR Alentejo e Junta da Extremadura – com o intuito de avaliarem e autenticarem a proposta de Programa de Assistência Técnica, proposta pela União Europeia. Para o Vice-Presidente da CCDR Centro, Eduardo Anselmo, é crucial que algumas regiões do interior de ambos os países, “consigam reverter o processo de declínio que dura há mais de 100 anos”, considerando que este projeto deve ser tido como um “objetivo experimental” que, caso apresente bons resultados, “poderá ser um exemplo para outras aldeias também se revitalizarem”.
Relativamente ao projeto, segue-se agora a implementação do programa de assistência técnica, com a visita dos peritos da União Europeia a cada uma das aldeias integrantes.
O apoio às famílias, ao empreendedorismo e à recuperação do edificado
O município de Pampilhosa da Serra tem vindo a implementar programas de apoio à natalidade, ao transporte escolar, ao empreendedorismo e à recuperação do edificado. Estas iniciativas surgem porque o executivo acredita na possibilidade de combater o estigma atribuído ao interior de Portugal, de que estes territórios não têm capacidade concorrencial.
Com uma superfície de quase 400 quilómetros quadrados, ocupada por pouco mais de quatro mil pessoas, o concelho tem vindo a perder população ao longo dos últimos 60 anos. Foi em virtude do fenómeno migratório, motivado pela procura de melhores condições de vida no litoral, que todo o interior do país começou a sentir esta desertificação. Uma realidade que Pampilhosa da Serra acredita ser possível combater “com os apoios certos”.
Para fazer face a todos os problemas, de uma forma “criativa e diferenciadora”, Pampilhosa da Serra tenciona apoiar os seus habitantes, incitar o investimento no concelho e captar novos jovens empreendedores, que se podem sentir estimulados, pelo conjunto de programas oferecidos pelo município, a criarem o próprio negócio.
Primeiro, a todos os casais que entendam ter filhos, a Câmara será “um apoiante nas primeiras horas e nos primeiros anos do crescimento desses filhos”, assegura o autarca. Quanto ao regulamento de apoio ao transporte escolar, “vamos buscar os alunos, a todas as aldeias, à porta de todas as casas, e fazemo-lo gratuitamente até ao 12º ano”.
Como consequência do decréscimo da população, adensa-se o problema do edificado que, por sua vez, ganhou contornos ainda mais desastrosos com os incêndios que assolaram a Região Centro, em 2017. “Houve muitas casas que acabaram por arder na totalidade e que os proprietários, neste momento, não têm capacidade de recuperar. Portanto, são ruínas completamente ao abandono”, elucida. Neste regulamento, a autarquia vai dar um apoio até 50% do gasto, para limpeza e remoção dos escombros, justamente, para “deixarmos as nossas aldeias mais limpas e bonitas”.
Por fim, “que eu acho que é a cereja no topo do bolo”, o apoio ao empreendedorismo, “onde dizemos, claramente, que apoiamos todas as pessoas ou empresas que se queiram fixar na Pampilhosa, até ao montante máximo de 60% do investimento” e que, além disso, ainda poderão prestar outros apoios, mediante as condições de cada pessoa ou empresa, realça o presidente da Câmara Municipal.