É um dos exemplos mais notáveis da ligação harmoniosa entre paisagem e arquitetura palaciana em Portugal, do que era a vida na Corte entre a segunda metade do século XVIII e o início do século XIX e, acima de tudo, do que era o gosto da aristocracia portuguesa, numa altura marcada pelo barroco, pelo rococó e pelo neoclassicismo. Mas a relevância do Palácio Nacional de Queluz vai muito além da estética.
Intimamente ligado às vivências de três gerações da Família Real portuguesa, e palco de intensas emoções, testemunhou acontecimentos determinantes para a história de Portugal. Por tudo isto, o Palácio Nacional de Queluz é um incontornável marco histórico, artístico e cultural; um património valioso que a Parques de Sintra investiga, conserva, recupera e divulga, para proporcionar às gerações presentes e futuras uma viagem ao mundo sofisticado e exuberante do período barroco.
De Casa de Campo a Palácio Real
As origens do Palácio remontam à antiga Casa de Campo de Queluz, construída nos finais do século XVI, pelo primeiro marquês de Castelo Rodrigo, D. Cristóvão de Moura, partidário da União Ibérica, instaurada em 1580. Após a Restauração da Independência, em 1640, a propriedade é confiscada e integrada na Casa do Infantado.
Em 1747, o Infante D. Pedro, terceiro Senhor da Casa do Infantado encarrega o arquiteto Mateus de Vicente de Oliveira de ampliar o chamado “Paço Velho”. Anos mais tarde, em 1760, o anúncio do casamento de D. Pedro com a herdeira do trono, a princesa D. Maria, futura rainha D. Maria I, motiva obras mais profundas, já sob a orientação de JeanBaptiste Robillion. A intervenção do arquiteto e ourives francês dota a propriedade da grandeza de Palácio Real, recheando-o de salas de aparato, como a Sala do Trono ou a Sala dos Embaixadores. Acrescenta-lhe, igualmente, um conjunto de sumptuosos jardins de inspiração francesa.
Entretanto, o Palácio deixa de ser uma residência de verão e torna-se na principal morada da Família Real, que ali habita a partir de 1794, após o incêndio que destruiu a Real Barraca da Ajuda. Durante o reinado de D. Maria I e de D. Pedro III, o espaço vive a sua época áurea e torna-se um dos principais pontos de lazer da Corte, com a organização de requintadas festas, serenatas, cavalhadas, espetáculos de fogo-preso, celebrações religiosas e aniversários reais. Mas a folia rapidamente se desvanece e dá lugar a tempos sombrios de preocupação e de medo.
Em 1807, já com D. João na regência do reino, e na sequência da chegada das tropas napoleónicas a Lisboa, a Família Real parte para o Brasil, levando consigo o recheio do Palácio.
Após o regresso da Família Real, em 1821, vive-se um clima de grande instabilidade política. Nesta altura, a rainha D. Carlota Joaquina, acusada de conspirar contra o marido, D. João VI, e de defender os interesses da coroa espanhola e não os de Portugal, é afastada do poder, ficando isolada no Palácio de Queluz em regime de semiexílio.
A geração seguinte, marcada pela Guerra Civil que opôs os irmãos D. Miguel e D. Pedro IV de Portugal e primeiro Imperador do Brasil, encerrou a vivência real do Palácio de Queluz. Em 1834, a morte de D. Pedro IV, primeiro monarca constitucional português, em Queluz, no mesmo quarto onde tinha nascido 36 anos antes, marca o fim do Antigo Regime, período ao qual este Palácio ficará, eternamente, ligado.
A vida do Palácio nos séculos XX e XXI
Em meados do século XX, e após muitos anos de esquecimento, o Palácio de Queluz, que tinha sido classificado como Monumento Nacional em 1910 e que tinha sofrido um incêndio em 1934, voltou a ter um papel central na história de Portugal, transformando-se num palco incontornável da diplomacia e da política externa nacionais.
A partir de 1940, e até 2004, o Pavilhão D. Maria I passou a ter funções de residência dos Chefes de Estado estrangeiros em visita oficial a Portugal. Nesta ala do Palácio Nacional de Queluz, que foi objeto de um projeto de musealização concluído em 2021, ficaram alojadas algumas das personalidades que mais influenciaram a história da Europa e do mundo no século passado, com destaque para Rainha Isabel II do Reino Unido.
A vertente lúdica também foi recuperada: a Escola Portuguesa de Arte Equestre, fundada em 1979, está sediada nos jardins do Palácio Nacional de Queluz. Esta Escola, profundamente ligada à tradição e aos costumes da corte portuguesa do século XVIII, recupera a tradição da Picaria Real, academia equestre fundada por D. João V, e utiliza exclusivamente cavalos lusitanos de ferro de Alter Real. É considerada Património Nacional e tem como objetivo promover o ensino, a prática e a divulgação da arte equestre tradicional portuguesa, um património cultural único no mundo.
Atualmente, os visitantes podem assistir a treinos, apresentações e galas no Picadeiro Henrique Calado, na Calçada da Ajuda (Belém, Lisboa).
Em setembro de 2012, a Parques de Sintra assume a gestão do Palácio Nacional de Queluz.
Parques de Sintra devolve o esplendor a Queluz: a recuperação do azul das fachadas e a reconstituição dos Jardins Botânico e de Malta
A partir do momento em que passou a integrar o património administrado pela Parques de Sintra, o Palácio Nacional de Queluz entrou numa nova fase da sua história. A empresa, que contava já com uma vasta experiência na área da gestão, conservação e restauro do património, promoveu um diagnóstico do estado de conservação do Palácio e dos Jardins. Confirmado o elevado estado geral de degradação do conjunto, foram analisadas as áreas a necessitar de recuperação e desenvolvidos/adaptados projetos detalhados de intervenção.
Desde então, a Parques de Sintra levou a cabo múltiplos projetos no Palácio Nacional e Jardins de Queluz, concretizando investimentos que ascendem a cerca de 11 milhões e meio de euros.
Um dos mais importantes foi a recuperação das cantarias, vãos e fachadas do monumento. Os trabalhos decorreram entre 2015 e 2016 e devolveram a cor azul original ao edifício. A investigação aprofundada permitiu identificar o reboco tradicional de cal e areia e pigmento azul-claro acinzentado. Posteriormente, face à acentuada deterioração das fachadas do Palácio, optou-se por substituir os rebocos e os barramentos degradados, uniformizando o acabamento das fachadas com uma solução mais próxima da original: a caiação tradicional, em cores obtidas a partir de pigmentos de origem mineral, sobre rebocos de cal e areia.
Nos jardins, destacam-se dois grandes projetos: a reconstituição histórica do Jardim Botânico de Queluz e a recuperação do Jardim de Malta.
Construído entre 1769 e 1780, o Jardim Botânico de Queluz foi sucessivamente destruído por fenómenos naturais e abandonado.
Em 2012, a Parques de Sintra iniciou um complexo processo de investigação histórica e sondagens arqueológicas que envolveram uma equipa multidisciplinar e possibilitaram o restauro integral deste Jardim. Entre a diversidade de elementos que regressaram aos seus locais originais, após a sua descoberta e identificação, salientam-se as quatro estufas, onde voltaram a ser cultivados ananases, como na época dos grandes banquetes da Família Real em Queluz; o lago central; e a estatuária. A coleção botânica foi constituída com base no Index de Manuel de Moraes Soares, datado de 1789, que reúne as espécies existentes na época neste jardim.
Em 2017, concluiu-se a reconstituição histórica do Jardim Botânico de Queluz, que devolveu à fruição pública um espaço que tinha perdido a sua função original. O projeto alcançou um feito inédito para Portugal ao vencer dois Prémios da União Europeia para o Património Cultural / Prémios Europa Nostra 2018: o prémio do júri, na categoria de Conservação e Restauro, e o prémio Escolha do Público.
Também em 2017, e no seguimento de uma extensa investigação, o Jardim de Malta, construído entre 1758 e 1765, foi objeto de um projeto de reconstituição e requalificação que lhe restituiu o traçado setecentista e o caráter lúdico e interpretativo original. Voltou, assim, a ser possível desfrutar deste jardim de aparato em parterre (superfície plana), composto por desenho geométrico ou em broderie, como se fosse um bordado ou um tapete, e pensado para ser apreciado como uma peça de arte. Como medida de prevenção contra o míldio que afeta o buxo, e seguindo as recomendações internacionais, a replantação foi feita com murta.
A nível decorativo, procedeu-se ao restauro e conservação da estatuária, das balaustradas, do lago central, dos degraus e cantarias, bem como ao restauro e regresso ao Jardim de Malta dos quatro lagos angulares e respetivos grupos escultóricos.
De projeto em projeto, o Palácio Nacional de Queluz vai, assim, recuperando o esplendor do século XVIII, mas, há, ainda, um longo a caminho a percorrer.
O regresso do Órgão Histórico de Tubos do Século XVIII à Capela Real, o Renascimento do Oratório de D. João VI e outros projetos para o futuro
Atualmente, a Parques de Sintra está a intervir na Capela Real do Palácio Nacional de Queluz, que vai ser integralmente restaurada. Um dos grandes objetivos do projeto é permitir a perfeita e funcional reintegração do órgão histórico de tubos do século XVIII, que vai voltar ao local original ao fim de mais de 100 anos.
Contemplando a multiplicidade de técnicas artísticas e decorativas presentes naquele que é um dos espaços mais antigos do Palácio, todos os revestimentos decorativos, que incluem madeira policromada, pintura sobre tela, painéis de azulejo e talha dourada, estão a ser conservados e restaurados. É necessário intervir, igualmente, a nível estrutural, pois a instalação do instrumento ao centro do Coro Alto requer a criação do espaço destinado a albergar toda a mecânica sonora.
Simultaneamente, o órgão histórico de tubos, construído no século XVIII por Machado e Cerveira, está a ser restaurado pelo mestre organeiro Dinarte Machado.
Quando o projeto estiver concluído, previsivelmente no final de 2024, o instrumento regressará ao local original, para voltar a ser escutado em todo o seu esplendor. A Parques de Sintra devolverá, assim, a fruição deste instrumento histórico à comunidade, no cumprimento da sua missão, que passa também pela recuperação do património imaterial e das vivências associadas ao Palácio Nacional de Queluz. Ao longo dos anos muitas têm sido as atividades culturais promovidas pela empresa com este objetivo, com particular destaque para a música do período barroco.
Tal como a música, também a religião teve um papel fundamental na história deste Palácio. Por isso, enquanto decorre o restauro da Capela Real, há um projeto museográfico em curso vai fazer renascer o oratório de D. João VI. O estudo dos inventários da época, apoiado por um registo iconográfico de 1906, está a permitir a reconstituição deste espaço de oração fundamental para conhecer os hábitos da Família Real. Algumas valiosas peças que vão regressar ao seu local original, como uma estatueta de São Pedro oferecida ao rei D. João VI pelo Papa Pio VII e pinturas de Domingos Sequeira, Jean-Baptiste Debret e Arnaud Pallière, foram já restauradas.
No Palácio Nacional de Queluz, como acontece em todos os parques e monumentos geridos pela Parques de Sintra, a investigação é constante, com vista a aumentar o conhecimento sobre o património. Um trabalho que origina novas descobertas e novas abordagens museográficas, resultando num património vivo e em constante dinamização, que oferece ao público motivos regulares de visita e experiências inovadoras.
No futuro, o público pode contar com muitas novidades em Queluz. Em resultado das mais recentes conclusões decorrentes da investigação, a museografia do Palácio será objeto de revisão para recuperar os ambientes e as vivências quotidianas dos séculos XVIII e XIX.
Prevê-se, igualmente, a instalação de um núcleo interpretativo do monumento no local atualmente ocupado pela Biblioteca de Arte Equestre (que será transferida para outro espaço do Palácio), onde serão disponibilizados documentos e variados objetos que permitem perceber as várias fases da história do Palácio Nacional de Queluz, acrescentado valor à experiência de visita.
Sobre a Parques de Sintra
A Parques de Sintra é uma empresa de capitais exclusivamente públicos, criada em 2000, no seguimento da classificação pela UNESCO da Paisagem Cultural de Sintra como Património da Humanidade. Não recorre ao Orçamento do Estado, pelo que a recuperação e manutenção do património que gere são asseguradas pelas receitas de bilheteiras, lojas, cafetarias e aluguer de espaços para eventos.
Nos últimos dez anos, as áreas sob gestão da empresa (Parque e Palácio Nacional da Pena, Palácios Nacionais de Sintra e de Queluz, Chalet da Condessa d’Edla, Castelo dos Mouros, Parque e Palácio de Monserrate, Convento dos Capuchos e Escola Portuguesa de Arte Equestre) receberam cerca de 25 milhões de visitas.
A PSML é detentora de onze World Travel Awards para Melhor Empresa do Mundo em Conservação, que venceu consecutivamente entre 2013 e 2023.
São acionistas da PSML a Direção Geral do Tesouro e Finanças (que representa o Estado), o Instituto da Conservação da Natureza e Florestas, o Turismo de Portugal e a Câmara Municipal de Sintra.