PEDRA, VINHO, MEMÓRIA E SILÊNCIO

PEDRA, VINHO, MEMÓRIA E SILÊNCIO

No coração verde do Minho, entre calçadas romanas, mosteiros milenares e vinhas velhas, desenha-se uma das mais antigas rotas jacobeias: o Caminho Minhoto Ribeiro. Esta via secular liga Braga, antiga capital do noroeste peninsular romano, a Santiago de Compostela, num percurso onde se cruzam fé, comércio, cultura e paisagem.

Com cerca de 75 quilómetros em território português e 173 na Galiza, o caminho percorre municípios como Vila Verde, Ponte da Barca, Arcos de Valdevez, Monção e Melgaço, antes de atravessar o rio Minho e serpentear por terras galegas até à catedral do apóstolo Santiago. Trata-se de um traçado que recupera uma rota com raízes profundas na Idade Média e cuja importância foi muito além da devoção religiosa.

Historicamente, esta via não serviu apenas os passos de peregrinos. Foi também trilho de mercadores, em especial os que transportavam o célebre vinho do Ribeiro, rota militar durante a Guerra da Restauração e, sobretudo, canal de trocas culturais e económicas entre as duas margens do Minho. Documentação do século XII já atesta a circulação de bens e gentes por este itinerário, testemunho da sua relevância transfronteiriça.

Hoje, o Caminho Minhoto Ribeiro afirma-se como uma experiência imersiva num território de riqueza patrimonial singular. Ao longo do percurso, encontram-se hospitais de peregrinos, igrejas românicas, mosteiros beneditinos, capelas votivas, cruzeiros, pontes romanas e medievais, mas também achados arqueológicos, antigas adegas e nascentes termais. Cada etapa é, assim, uma aula viva de história, onde se leem séculos de permanências e transformações.

A natureza é também protagonista. O verde intenso do Minho acompanha o viajante por campos agrícolas, florestas e vales atravessados por ribeiros, enquanto aldeias de pedra e tradições resilientes acolhem quem passa. A hospitalidade local, os sabores regionais (das carnes fumadas aos vinhos de casta autóctone), e as águas terapêuticas fazem do caminho um convite aos sentidos.

Progressivamente sinalizado e promovido por autarquias e associações, este percurso começa a ganhar visibilidade dentro do universo das rotas compostelanas. A omnipresente seta amarela, símbolo da peregrinação contemporânea, já marca muitas das suas encruzilhadas, orientando a travessia.

Para quem deseja uma viagem com densidade histórica, autenticidade paisagística e um ritmo ditado pelos passos e pelo tempo, o Caminho Minhoto Ribeiro é muito mais do que um percurso alternativo para Santiago. É uma rota de descoberta interior e exterior, onde o quotidiano se encontra com o sagrado, e onde Portugal e Galiza se tocam — em pedra, vinho, memória e silêncio.

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