REPENSAR LISBOA PARA UM FUTURO MAIS FRESCO

REPENSAR LISBOA PARA UM FUTURO MAIS FRESCO

Lisboa já não é a mesma quando o termómetro dispara. Para quem vive, trabalha ou sonha a cidade, o calor deixou de ser mero incómodo de Verão e tornou-se alerta coletivo de saúde pública, urbanismo e economia. Num cenário europeu cada vez mais escaldante, a cidade posiciona-se agora na linha da frente da regeneração climática, juntando em mesa-redonda alguns dos melhores cérebros nacionais e internacionais.

Durante os três dias de Archi Summit, as figuras de proa do urbanismo climático, arquitetura, saúde pública, sustentabilidade e paisagismo colaboraram numa proposta robusta, já integrada no Contrato Climático Cidade de Lisboa 2030. Pretende-se entender Lisboa como um sistema vivo, cheio de contrastes térmicos, e ir buscar aos dados do IPMA e da FFMS a urgência de atuar, face aos 2,7°C de aumento médio até meados do século.

O plano assenta em cinco pilares fundamentais. Em primeiro lugar, aposta-se numa ampliação massiva da cobertura verde, capaz de funcionar como barreira térmica e elemento de coesão social. Paralelamente, defende-se a substituição do asfalto tradicional por materiais inteligentes que retenham menos calor e garantam maior permeabilidade do solo, ajudando a mitigar a acumulação térmica. O redesenho dos espaços públicos é outra linha estratégica: praças devem transformar-se em ilhas sombreadas, e as ruas precisam de ser recuperadas para dar prioridade à presença das pessoas, promovendo o conforto e a vivência coletiva.

Há ainda a urgência de intervenção nas zonas mais vulneráveis da cidade, numa perspetiva de reabilitação justa que garanta que a qualidade de vida térmica não seja uma questão de código postal. Por fim, o projeto sublinha a necessidade de mobilizar toda a sociedade, estabelecendo uma aliança entre cidadãos, setor privado e entidades públicas para que o conforto climático deixe de ser uma meta isolada e passe a ser uma conquista coletiva.

Com metodologias, prazos e parceiros claramente definidos, a proposta inspira-se em exemplos já dados em cidades como Paris, Barcelona e Viena. A capital portuguesa, que integra o núcleo europeu das 100 “Cidades Climaticamente Neutras” até 2030, mantém o olhar centrado no que é replicável, prático e urgente. “Em Lisboa, pensar a cidade deixou de ser luxo criativo, passou a ser cálculo de sobrevivência”, desafia um dos autores do plano. A entrega deste contributo técnico-científico à Câmara Municipal marca assim o início de um novo ciclo. Desta vez não basta anunciar mudanças: o desafio é implementar. Mais sombra, mais verde, mais água, e a criação de novas rotinas urbanas estão no centro deste compromisso.

Poder Local