Em Miranda do Douro, para além do vasto património cultural, artesanal, arqueológico e arquitetónico há uma forte predominância de raças autóctones. Falámos das Raças Bovina Mirandesa, Churra Galega Mirandesa e Asinina Mirandesa que, apesar dos esforços do município e das associações, atualmente, estão em vias de extinção.
À medida que se percorre a estrada, já dentro do município, avistam-se, entre o verde e o castanho das pastagens, alguns exemplares de animais destas espécies.
Para o vice-presidente da Câmara Municipal de Miranda do Douro, Nuno Rodrigues, as raças autóctones são o meio de sobrevivência dos produtores da região. No entanto, e por oposição às raças não autóctones, são detentoras de uma genética mais pequena, com menor carcaça e, por isso, apesar da qualidade ser “muito melhor”, demoram mais tempo a atingir o peso ideal para serem colocadas no mercado.
No ponto de vista do autarca, se os preços forem iguais para ambas as raças “não compensa”. Tal como a qualidade e o rendimento são diferentes, o preço praticado para animais de raça autóctone deveria ser mais elevado, de forma a corresponder à qualidade que detém.
Apesar dos esforços por parte das associações, Nuno Rodrigues reconhece a falta de apoios para manter as raças autóctones. “Se não houver mais apoios pela parte do munício e do governo, as associações vão ter de terminar a atividade, porque não lhes compensa, não têm retribuição monetária”, conclui.
CARREIRONESPULAS RAÇAS PRÓPIAS DE MIRANDA
An Miranda, además de muito patrimonho cultural, artesanal, arquiológico i arquitetónico, hai ua fuorte perdomináncia de raças própias. Falamos de las Raças: Baca Mirandesa; Churra Galhega Mirandesa; Burro Mirandés que, mesmo apuis de todo l que ten sido feito, síguen amanaciadas de stinçon. Todo l trabalho feito por estas associaçones ten, por bias disso, un balor einestimable pal patrimonho genético pertués.
A cada metro de strada, yá andrento l Praino, abistan-se, por antre l berde i l castanho de ls pástios, dalguns destes animalicos. Pal Bice-Maioral de la Cámara de Miranda, Nuno Rodrigues, las raças própias son ua maneira de suobrebibéncia de ls lhabradores de la region. An todo l causo, l crecimento destas raças ye más demorado por bias de la sue genética, l que “afiança ua chicha de culidade superior”, diç l Bice Maioral. I acrecenta que este “ye un gasto a somar porque ls animales lhieban más tiempo a ganhar l peso cierto para que seian puostos a benda”. Desta maneira, ls précios tamien dében de ser outros, “de maneira a star quadrados cula maior culidade de l produto”, diç Nuno Rodrigues.
L outarca, reconhece l sfuorço de ls lhabradores i de las associaçones que los repersentan, lastimando la falta de ajudas de la Admenistraçon Central, que desta maneira acaba por apoucar la “buona gana de la Cámara”, i “se nun houbir más ajudas de l goberno, las associaçones ban a tener que parar la atebidade, porque las ganáncias nun correspónden a las necidades de ls lhabradores, que acában tamien por zistir”, rematou.
Os dóceis burros de Miranda
Os animais da Raça Asinina de Miranda são detentores de um pelo castanho, que, na raça, é valorizado comprido, de um focinho branco, de uma risca, igualmente, branca em torno dos olhos, de orelhas bastante compridas e felpudas, de uma cabeça volumosa, de articulações resistentes e, normalmente, medem entre um metro e vinte e um metro e cinquenta “ao garrote”.
Nos dias que correm, a raça continua em vias de extinção, pois o número de animais reprodutores é, ainda, inferior a três mil. De acordo com Joana Braga, a Associação para o Estudo e Proteção do Gado Asinino (AEPGA) estima a existência de 700 fêmeas em idade reprodutiva e 50 machos reprodutores.
Composta por 12 funcionários e quatro voluntários, a Associação procede à gestão do livro genealógico desta raça, através do trabalho levado a cabo pelo departamento veterinário, juntamente com o secretário técnico da raça, presta o apoio necessário aos criadores, de forma a registarem os seus animais, garantido que são, realmente, da raça. Além disto, põe em prática um trabalho de sensibilização, “para que as pessoas que queiram criar o burro de Miranda, possam criá-lo ou possam reproduzir a sua fêmea com um macho da raça, que esteja registado no livro”. Para além disto, a Associação é detentora de um centro de atividades lúdico-pedagógicas do burro de Miranda, que fica integrado no Parque Ibérico de Natureza e Aventura de Vimioso, e onde recebe escolas e instituições de solidariedade. Também, colabora com o Centro de Acolhimento do Burro, vocacionado para o resgate e acolhimento do animal já com alguma idade, de modo a prestar-lhe todo os cuidados veterinários.
Para Joana Braga, os eventos onde o burro de Miranda marca presença são muito importantes para a Associação. “É uma forma de levar a nossa missão além-fronteiras do Planalto Mirandês.”
Os “caretos” de Miranda do Douro
Caracterizados por uma diferenciação morfológica, os ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa são detentores de uma lã comprida e de um “careto”, designação dada aos olhos circundados de preto e às pontas do focinho e das orelhas, também, da mesma cor.
Atualmente, a Raça Churra Galega Mirandesa está numa fase “muito crítica”, refere Andrea Cortinhas, da Associação Nacional de Criadores de Ovinos da Raça Churra Galega Mirandesa (ACOM). As perspetivas são “bastante dramáticas” pois não existem jovens que queiram dar continuidade ao projeto.
De forma a valorizar o produto e o produtor, a Associação, juntamente com a Cooperativa dos Ovinos Mirandeses, está a trabalhar, afincadamente, na promoção e comercialização do produto qualificado como DOP. “Tentamos sempre pagar acima do valor de mercado, para diferenciar e tentar ajudar o produtor a valorizar o produto.” Outra das preocupações da Associação é a lã que acaba descartada, ou que vai sendo armazenada, por não haver comercialização do produto.
Relativamente à limpeza da vegetação dos terrenos levada a cabo pelos ovinos, Andrea Cortinhas explica que a atividade foi realizada com o intuito de promover a raça, ao mesmo tempo que a usaram para controlar o crescimento das ervas, de forma sustentável.
“A nossa raça é património, património cultural, património animal, património genético, temos de saber aproveitar estas qualidades.”
Os robustos bovinos da raça mirandesa
Com uma pelagem bicolor, mais escura nas extremidades e uma linha loira ao longo do dorso, eis os bovinos mirandeses, que foram, até aos anos 70, a população da raça mais importante que houve no país.
Embora continue a ser uma raça em risco de extinção, segundo Válter Raposo, da Associação dos Criadores de Bovinos da Raça Mirandesa (ACBRM), têm conseguido manter o efetivo, rondando as cinco mil fêmeas adultas. Neste momento, o maior desafio não passa só pelo que a raça dá ao criador. Tendo em conta a desertificação deste território, o facto de ser uma atividade que existe 365 dias por ano e, nesta zona, predominarem os minifúndios é “muito difícil” aparecer alguém e fixar-se, principalmente, na pecuária.
Enquanto Associação, em termos de iniciativas, “tentamos dar todo o apoio e logística que os nossos criadores necessitam para a manutenção da atividade e, posteriormente, para a promoção da raça. Em parceria com a cooperativa agropecuária mirandesa, estamos presentes em feiras e exposições e organizamos concursos pecuários.”
Para além de Miranda do Douro, onde começaram a ser produzidos estes bovinos, o solar da raça expandiu-se e, hoje em dia, já inclui os concelhos de Vimioso, Mogadouro, Macedo de Cavaleiros, Vinhais e Bragança.
Quanto à atribuição da Denominação de Origem Protegida (DOP), em 1994, para Válter Raposo, o que vende a carne é a qualidade e todo o empenho que os criadores têm, “porque se não fosse a qualidade, o carimbo pouco servia”, justifica.