Aquando da expulsão dos judeus, pelos Reis Católicos de Espanha, em finais do séc. XV, verificou-se uma grande fixação dos mesmos em toda a zona norte fronteiriça, em especial no território vinhaense.
De acordo com o numeramento de 1530, viviam intramuros, em Vinhais, pouco mais de 80 vizinhos dos quais, segundo o depoimento de um inquirido pelo Tribunal do Santo Ofício, apenas três ou quatro eram cristãos velhos, havendo testemunhos de uma considerável prática da Lei mosaica em Vinhais, numa sinagoga que então existia e à qual acorriam judeus de diversas localidades.
A grande comunidade marrana em Vinhais é, também, confirmada pelos cerca de 500 locais que foram apresentados perante a Inquisição, entre 1500 e 1792, acusados de práticas de judaísmo, conforme consta dos respetivos processos existentes na Torre do Tombo.
O próprio cemitério em torno da histórica e interessante igreja de São Facundo – Monumento classificado IIP, Dec. N.º 95/78, Dr. 210, de 12 de setembro de 1978 –, em Vinhais, reforça a importância que este território teve para os judeus pois, conforme se pode ler em alguns processos, era desejo de muitos judeus irem a enterrar naquele espaço por ali existir “um sardão cuja sombra sagrada beijava o solo”.
Apesar do elevado número de vinhaenses julgados ao longo dos anos, a tradição oral tem mencionado Rebordelo como Terra de Judeus.
Efetivamente, a comunidade marrana teve forte implantação nessa localidade, destacando-se em diversas áreas, nomeadamente na produção de seda, prática hoje inexistente.
Um hexagrama, ou Estrela de David, gravado em alto-relevo, num pilar granítico localizado na entrada de uma propriedade e casa que foi pertença da família do cristão-novo Moisés Abraão Gaspar, além de inúmeras casas cuja arquitetura remete para uma tipologia caraterística, dão testemunho disso mesmo.
Um singular documento, conhecido como “O Manuscrito de Rebordelo”, intitulado “Livro de Orações ao Altíssimo Deus todo-Poderoso”, com provável datação de meados do séc. XVIII até meados do séc. XIX, dividido em “Orações” e “Coisas Divinas” constando, numa terceira parte, uma listagem com nascimentos, casamento e óbitos de residentes em Rebordelo, sendo o último registo referente a um óbito datado de 1848.
Em 1928, o periódico do Movimento do Resgate, “Ha-Lapíd” – Órgão da Comunidade Israelita do Porto, fundado pelo Capitão Barros Basto que, por essa altura, terá visitado Rebordelo algumas vezes, constatando a prática de criptojudaísmo naquela localidade ainda durante algumas décadas do século XX –, publicou a transcrição integral do manuscrito.
Mas as terras adotadas pela comunidade no concelho de Vinhais não se resumiram a estas duas localidades. Apesar do reduzido número de processos do Tribunal do Santo Ofício, de habitantes da típica e pitoresca aldeia raiana da Moimenta, a presença de alguns símbolos e formas cruciformes insculpidas em lintéis e ombreiras de portas e janelas de algumas casas de habitação, além de outros elementos tradicionais da cultura judaica, dão testemunho dessa presença, confirmada pelo rifão popular: “Bem-aventurados são os que não têm contas com os da Moimenta, Rebordelo e Lebução!”.