A Herança Islâmica na Península Ibérica

A Herança Islâmica na Península Ibérica

Depois de quase 800 anos de domínio, até o século XV, o legado islâmico distinguiu-se na cultura, ciência e tradições de Portugal.

Inicialmente, o Al Andaluz foi governado pelo Califado Omíada de Damasco. Após a queda desta dinastia, em 756, Abd al-Rahman I, o único sobrevivente do massacre dos Omíadas, refugiou-se na Península Ibérica, em Córdoba, onde se proclamou Emir. Já em 929, o emir Abd al-Rahman III declarou a independência do Califado de Bagdad, afirmando-se Califa de Córdoba. A partir do século XII, a reconquista cristã ganhou força e foi vivida como uma guerra religiosa. Em 1147, D. Afonso Henriques assumiu o domínio de Lisboa e Santarém, deslocando a fronteira do domínio islâmico para sul.

A Batalha de Navas de Tolosa, em 1212, enfraqueceu decisivamente os Almóadas, acelerando a progressão das forças cristãs. No século XIII, Portugal continuou a conquista do Garb Al Andaluz, com a tomada de posse de D. Afonso III em 1249.

Apesar da perda de território, os muçulmanos e judeus permaneceram em Portugal sob “condições especiais”. O IV Concílio de Latrão, em 1215, instituiu a desunião dessas comunidades, forçando-as a viver em bairros separados, as Mourarias e Judiarias. Em 1497, D. Manuel I decretou a expulsão definitiva de judeus e muçulmanos.

Ainda assim, o legado islâmico continuou a influenciar a arquitetura, o urbanismo, a toponímia, a língua, a gastronomia e as tradições populares portuguesas, assim como as “lendas das mouras encantadas”. Al-Mutamid, rei e poeta nascido em Beja; Ibn Qasi, governante de Silves e Mértola, e Ibn Ammar, poeta e vizir em Sevilha foram algumas das figuras mais emblemáticas de Al Andaluz.

Em 2025, Portugal oferece a oportunidade de visitar vestígios dessa herança islâmica. No Norte, destacam-se as cidades de Lamego e o Tesouro da Sé de Braga. No centro do país, encontram-se vestígios em Coimbra, Idanha-a-Velha, Alenquer e Trancoso, além de construções moçárabes, como é o caso da Igreja de São Pedro de Lourosa.

Na região de Lisboa, o Castelo de São Jorge, a Cerca Moura, o Castelo dos Mouros em Sintra e o Castelo de Palmela preservam as recordações desse período. No Alentejo, as cidades Mértola, Beja, Évora e Moura guardam testemunhos importantes. No que diz respeito ao Algarve, Silves, Faro, Tavira e Loulé foram os centros islâmicos mais significativos.

Uma das formas de explorar este passado “rico” é a Rota de al-Mutamid, que percorre os locais ligados à vida do rei-poeta, de Lisboa a Sevilha. Esta rota resgata a influência cultural, científica e artística de Al Andaluz, que floresceu na Península Ibérica durante quase oito séculos.

Cultura e Património