O Caminho de Santiago conjuga, em si, a herança cultural da Europa, e a ligação da Eurorregião Galiza Norte de Portugal, o mesmo destino, dois países.
Há muito que a relevância religiosa é partilhada com a importância cultural, económica, social e territorial. A dimensão atual do número de peregrinos diz-nos que já não se trata de um mero nicho de mercado do turismo religioso, mas sim, de um importante produto estratégico, que importa desenvolver e consolidar.
A promoção dos Caminhos Portugueses a Santiago passa pela perceção de todos os envolvidos, sejam participantes ativos ou simples residentes, sobre a importância e impacto que os Caminhos configuram na sua vida.
Importa também reforçar e aprimorar o conceito de património da humanidade e de itinerário cultural europeu. Sem esquecermos a história, é importante pensarmos o presente e projetarmos o futuro.
O bom caminho faz-se com ações que corporizam esta realidade.
Simbólica e historicamente a Maia tem tido uma ligação forte e secular ao Caminho de Santiago. Pela vivência de peregrinos que ao longo dos séculos por aqui passaram e por ter sido na Igreja do Divino Salvador de Moreira que a 25 de julho de 2021 (Dia de Santiago) se celebrou o memorando de entendimento entre a Entidade Regional de Turismo do Porto e Norte e os 10 municípios aderentes, que culminou com o processo de certificação do Caminho Português da Costa.
No Concelho da Maia existem três Caminhos de Santiago, devidamente consolidados e marcados. O Caminho Português da Costa, que passa pelas freguesias de Moreira e Vila Nova da Telha, foi certificado em 2022; o Caminho Português de Santiago Central – Porto e Norte, certificado em 2023, atravessa as freguesias da Cidade da Maia e de Moreira, já o Caminho Português Central por Braga passa pelas freguesias de Águas Santas, Milheirós e Nogueira e Silva Escura.
Ponto de Chegada
A Maia, através do Aeroporto Internacional Francisco Sá Carneiro, é o principal ponto de chegada dos peregrinos que querem fazer o Caminho Português nas suas diferentes opções. Acolher bem quem chega é importante. Proporcionar aos residentes momentos de ligação ao Caminho também. E, é por isso, que através da linguagem universal que a música permite, que o programa Sons no Caminho, ao longo dos últimos três anos, tem sido realizado em locais do caminho ou próximos, entre os quais o Aeroporto Francisco Sá Carneiro, as igrejas do concelho, a Quinta dos Cónegos e a Rua de Fundevila. O Caminho é uma herança que preservamos, um destino que assumimos, uma vontade que expressamos.
Tal como os primeiros peregrinos, a vontade é a de irmos mais longe e mais alto. Através do conhecimento, da partilha e de percorremos os caminhos. Os nossos e os que nos ligam aos outros. Humanidade e património.
O Caminho de Santiago, primeiro itinerário cultural europeu, indica-nos o caminho da partilha de património material através das nossas igrejas do caminho. Santuário Mariano de Nossa Senhora do Bom Despacho, templo simples de fachada em azulejo e interior de rica talha dourada. É esta primeira igreja que acolhe o peregrino se a opção for o Caminho Central.
Pelo caminho da Costa, entrando pela peculiar Rua da Estrada, o peregrino é convidado a viajar pela história, antes, porém, ao passar nas imediações do aeroporto, perceciona o mundo contemporâneo, a multiculturalidade de quem chega e os que se juntam ao caminho. Pouco depois, na renovada Praça do Exército Libertador podemos sentir o pulsar das lutas entre liberais e absolutistas. Aqui, há também um convite a uma pausa e a aproveitar os restaurantes locais para disfrutar da gastronomia local, da cozinha tradicional e de produtos endógenos. Ainda na Praça, merece especial atenção a Capela da Senhora Mãe dos Homens, datada de meados do século XIX.
Seguindo Caminho e antes de sairmos por Vila Nova da Telha, temos ainda a possibilidade de visitar mais um templo do Caminho. Santa Maria de Vila Nova da Telha, daqui ao cruzeiro, que alcançamos poucos metros à frente, antes de junto à pista do aeroporto, nos despedirmos da Maia e seguir Caminho.
Se a preferência for fazer o caminho Central, na versão que segue em direção a Braga, um dos principais centros
religiosos de Portugal, nada melhor do que entrar na Maia, por Águas Santas, em direção à Ponte de Parada. E se forem suficientemente curiosos e gostarem de descobrir preciosidades artísticas de rara beleza, então aqui, os peregrinos, podem fazer um pequeno desvio antes de retomar o Caminho e visitar a Capela de Nossa senhora de Guadalupe, extraordinária capela que une a exuberância dos seus frescos a uma lenda do lugar, a que os locais devotam especial interesse.
Mas se Guadalupe é especial, o que dizer da Igreja de Santa Maria de Águas Santas, monumento nacional e localmente conhecida como Igreja de Nossa Senhora do Ó. Certamente que vão apreciar esta recomendação.
Retomando o Caminho junto à Ponte de Parada, podemos aproveitar as confeitarias da zona para degustar pão quentinho, acabado de fazer, ou se for da parte da tarde, porque não um bolinho ou pastel para ajudar à caminhada?
Património Natural
Siga junto ao Rio Leça, património natural, caminho de memórias de outros tempos ligados à moagem ribeirinha.
Em Alvura, para além de se poder apreciar um lindo trecho do rio, conseguimos também perceber a recuperação da fauna e flora que o projeto do Corredor Verde do Rio Leça está a proporcionar.
Logo de seguida, somos brindados por Fundevila e a maravilha de um núcleo de casas rurais, ímpar pela sua qualidade e cuidada preservação.
Ao longo do caminho, passamos por lugares cuja toponímia nos remete para uma forte ligação à agricultura. Vessada é uma dessas expressões – terra mexida, é isso que nos diz.
Seguimos por Nogueira e Silva Escura, após passarmos o núcleo de Barroso, percebemos à direita o Monte Calvário, lugar de devoção e de vistas panorâmicas que convidam a uma nova pausa.
Pelo caminho e antes de chegarmos à Igreja de Santa Maria de Nogueira, observemos a Casa da Quinta, cenário provável de ocupação durante as invasões francesas, pelo menos para o imaginário popular.
Seguindo em direção a norte, temos ainda outros pontos de interesse. O monte de Santo António, lugar de culto e de tradição pagã; o Hipódromo Municipal em Silva Escura, onde o universo ligado aos cavalos encontra aqui uma referência e relativamente perto, a Igreja de Santa Maria de Silva Escura, um templo cujo interior nos revela o esplendor do Barroco Português.
O Caminho é uma herança que preservamos, um destino que assumimos, uma vontade que expressamos. Tal como os primeiros peregrinos, a vontade é a de irmos mais longe e mais alto.
O Caminho, diz-se, começa à porta de cada um. Mas temos a certeza de que o seu caminho passa por aqui!
*Fotografias: Mário Santos