TRANCOSO APOSTA FIRMEMENTE NA ROTA DO PATRIMÓNIO JUDAICO

TRANCOSO APOSTA FIRMEMENTE NA ROTA DO PATRIMÓNIO JUDAICO

A cidade de Trancoso, com uma forte ligação à comunidade judaica e através da sua rota do património judaico, investe num turismo “emocional e cultural”. O Centro de Interpretação da Cultura Judaica Isaac Cardoso e a Casa Bandarra são as duas das principais atrações desta rota que homenageia grandes personalidades.

Leão na fachada da casa do Gato Preto

“Os judeus de Trancoso eram sapateiros, tecelões, alfaiates, emprestavam dinheiro, eram proprietários, viviam também do arrendamento de habitações e eram essencialmente mercadores e homens de negócios.” – diz-nos o Presidente da Câmara Municipal de Trancoso, Amílcar Salvador. A comunidade Judaica cresceu substancialmente em Trancoso nos séculos XV e XVI, havendo a necessidade de ampliarem a sua sinagoga e assim foi em 1481, precedente do pedido realizado a D. João II. Consta-se também que a judiaria, na Rua da Corredoura, era maior que a da Guarda no século XVI.

É perante este passado histórico que o município assume a sua forte ligação ao judaísmo e integra dois grandes espaços culturais, em frente um ao outro, na rua Poço do Mestre: o Centro de Interpretação da Cultura Judaica Isaac Cardoso, com a primeira réplica de sinagoga sefardita em Portugal; e a Casa Bandarra, o primeiro monumento com cariz de interpretação cultural.

O CENTRO DE INTERPRETAÇÃO DA CULTURA JUDAICA ISAAC CARDOSO

Sinagoga – Centro de Interpretação Isaac Cardoso

O Centro de Interpretação da Cultura Judaica Isaac Cardoso analisa a presença judaica e os cristãos-novos em Portugal, principalmente em Trancoso, tendo sido pioneiro na forma de apresentar os conteúdos escritos e audiovisuais. São mencionadas as reparações históricas realizadas, devido ao que aconteceu na inquisição e foi construída uma sinagoga sefardita, mesmo não havendo atualmente uma comunidade judaica em Trancoso. O objetivo é fornecer um espaço pacífico aos seus visitantes.

Isaac Cardoso foi um especialista em medicina, filosofia, religião, entre outras áreas disciplinares, que assumiu este nome quando se mudou definitivamente para Verona e decidiu praticar o judaísmo livremente. A sua presença em Trancoso foi crucial, tendo crescido lá com os seus pais e decidiu sair no início do século XVII para ser médico na corte espanhola.

A CASA BANDARRA

A Casa Bandarra é constituída por dois pisos, sendo o piso zero dedicado a frases de autores sobre Bandarra. Os autores são Padre António Vieira, Fernando Pessoa e Elias Lipiner. Será possível assistir à transmissão de dois vídeos, um referente a lendas de Bandarra, recolhidas de residentes a história de vida e obra deste profeta.

O primeiro piso dispõe de um painel descritivo sobre a vida e obra de Bandarra, uma fonoteca e um livro em áudio, integrando as suas trovas que cantava aos cristãos-novos, as “que o fez ser preso pela inquisição”. Fisicamente está também presente um IPad que inclui uma aplicação de conteúdos científicos sobre este tema e uma mesa multimédia didática com várias ferramentas de uma oficina de sapateiro (sovela, molde de sapato, agulha martelo, entre outros), realizando uma correlação com as trovas de Bandarra.

Para terminar com uma grande surpresa no Logradouro será possível ouvir uma trova de Bandarra, com um arranjo musical, estando escritas nas suas paredes as letras de quatros trovas, em português e inglês. Todos os conteúdos ali presentes têm uma base científica, recorrendo também às novas tecnologias para apelar à visita de miúdos e graúdos.

QUEM FOI BANDARRA?

Bandarra é a alcunha do nome Gonçalo Anes, um homem que nasceu no início do século XVI em Trancoso, tendo assistido à “criação da inquisição, da qual foi vítima em 1541 (…)”.

Gonçalo Anes construiu uma posição social através da sua profissão, de ‘sapateiro de correia’, conseguindo relacionar-se mais facilmente com cristãos-velhos e cristãos-novos. Apesar de nunca ter sido comprovado ser judeu, ele defendia firmemente os judeus – era considerado, por muitos, um “exegeta” e “líder religioso”. A divulgação das suas “Trovas e Sonhos” tornaram-no num profeta de Portugal

A ROTA DO PATRIMÓNIO JUDAICO DE TRANCOSO

Trancoso tem estado a trabalhar na sua rota judaica, sendo cofundador da Rede de Judiarias de Portugal, o que demonstra a importância deste projeto para Trancoso.

Vitral com um candelabro

Esta rota passa principalmente pela rua da judiaria e pelo Centro histórico, já que os judeus também tinham casas aí, tal como se pode constatar pelos cerca de 200 elementos arquitetónicos. O autarca apresenta exemplos: marcas cruciformes, candelabros, estrelas, entre outros mais polémicos, “mas que fazem parte do património”. Para além disso, atualmente ainda se junta o Centro de Interpretação da Cultura Judaica Isaac e a Casa Bandarra.

O património judaico material e imaterial é visitado por cristãos-novos, naturais ou por residentes de Trancoso. Já não se trata de um turismo religioso, mas um mais “emocional e cultural, à procura de reminiscências das suas raízes”, afirmou. Os principais turistas proveem do Centro da Europa, Israel, norte de África, Estados Unidos e Brasil.

Apesar de esta rota já estar bastante rica culturalmente, Trancoso ainda ambiciona alargá-la às aldeias do concelho.

*Imagem principal: Casa do Gato Preto

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