PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA, 30 ANOS DEPOIS PATRIMÓNIO, FUTURO E COMUNIDADE

PAISAGEM CULTURAL DE SINTRA, 30 ANOS DEPOIS PATRIMÓNIO, FUTURO E COMUNIDADE

Sintra assinala trinta anos como Paisagem Cultural de referência mundial num momento que devolve ao território a centralidade que sempre teve. O aniversário reúne reconhecimento internacional, um programa dedicado às novas gerações e uma temporada natalícia que reafirma o património como lugar vivo, quotidiano e partilhado.

A FORÇA DE UMA PAISAGEM CELEBRADA HÁ TRÊS DÉCADAS

A classificação da Paisagem Cultural de Sintra como Património Mundial pela UNESCO, em 1995, permanece um dos momentos mais luminosos do reconhecimento internacional do património português. A serra afirmou-se então como uma síntese rara entre natureza, arquitetura e imaginação, capaz de concentrar séculos de criação humana num território onde a paisagem se renova a cada olhar.


Trinta anos volvidos, Sintra continua a reclamar esse lugar de exceção, reforçado hoje por uma gestão que alia ciência, conservação, inovação e um profundo sentido de responsabilidade cultural.

O mês de dezembro devolve esta história ao centro da atenção pública. À medida que estas páginas chegam aos leitores, a celebração da efeméride já marcou o calendário e o ano das comemorações segue o seu curso, num momento que ultrapassa a lógica das datas e se estende ao modo como o território se pensa e se vive. O aniversário abriu caminhos, consolidou projetos e lançou novos modos de viver o património.

Os sintrenses reconhecem essa transformação no quotidiano. Os visitantes percebem-na na qualidade e profundidade da experiência. As instituições envolvidas confirmam-na nos resultados alcançados.

UM RECONHECIMENTO INTERNACIONAL QUE REFORÇA A RESPONSABILIDADE

A Parques de Sintra, entidade que gere o coração monumental e natural do território, vive um ano particularmente significativo. Soma agora o 13.º World Travel Award na categoria de “Melhor Empresa do Mundo em Conservação”, distinção que reforça o estatuto de referência mundial nesta área, depois de doze galardões consecutivos entre 2013 e 2024. O prémio valoriza um modelo de gestão único no país, construído com equipas que conjugam conhecimento técnico, capacidade de investigação, as melhores práticas de restauro e uma visão contínua de salvaguarda das paisagens e dos monumentos sob sua tutela.

A empresa celebra vinte e cinco anos de história e recorda, pela voz do presidente do seu Conselho de Administração, João Sousa Rego, a importância de manter o equilíbrio entre o orgulho pelo caminho percorrido e a responsabilidade perante o futuro. Preservar Sintra implica testar soluções de sustentabilidade, desenvolver projetos inovadores, criar experiências diferenciadoras que respeitem a identidade profunda do território e reforçar parcerias com o setor associativo e empresarial local, promovendo um ecossistema colaborativo com impacto positivo na região.

SINTRA PH30 COMO LABORATÓRIO DE FUTURO

O aniversário UNESCO ganhou força adicional através do Sintra PH30, programa que marcou todo o ano e colocou os jovens no centro de uma abordagem renovada ao património. O projeto partiu de um princípio simples: aproximar novas gerações de um território que só se revela plenamente quando é vivido. Ao longo de 2025, o PH30 promoveu atividades exclusivas que transformaram a relação de muitos jovens com Sintra. Revelou bastidores de restauro, trouxe visitas a estaleiros abertos, propôs percursos na serra, organizou desafios de orientação, experiências noturnas, jogos de mistério, caminhadas e encontros com especialistas. A serra tornou-se laboratório, cenário e matéria viva. A aventura conviveu com o pensamento. A descoberta conviveu com a reflexão. Tudo isto ancorado numa premissa essencial: o património também se aprende no corpo, nos sentidos e na partilha de experiências que criam memória e pertença.

TRÊS DIAS QUE MOSTRARAM COMO O PATRIMÓNIO SE VIVE EM COMUNIDADE

O encerramento do programa, entre 6 e 8 de dezembro, mostrou a força desta aproximação. A Talk Os Jovens e o Património, no Palácio Nacional de Sintra, criou um espaço de reflexão profunda sobre a importância do património na formação das novas gerações. A sessão reuniu jovens participantes do programa e intervenientes do pensamento educativo e cultural, entre eles Paulo Pires do Vale e António Carlos Cortez, e recuperou exemplos inspiradores, desde projetos comunitários no bairro do Zambujal à recuperação das catacumbas de Nápoles pela mão da La Paranza Social Cooperative.

O debate procurou responder a uma questão decisiva: como convocar jovens que vivem num mundo acelerado, saturado de estímulos, a reconhecerem no património um bem comum que os interpela e responsabiliza? As respostas surgiram na forma de testemunho, experimentação e pensamento crítico, demonstrando que a educação patrimonial ganha força quando se abre ao diálogo e à criação conjunta.

O dia incluiu ainda uma visita guiada ao Palácio Nacional de Sintra conduzida pelo diretor dos Palácios sob gestão da Parques de Sintra, uma atuação musical com alunos do Conservatório de Música de Sintra e a cerimónia dos Prémios InstaHeritage, que recuperou, através das lentes dos participantes, o olhar fresco e atento sobre a Paisagem Cultural de Sintra. A noite trouxe um escape room construído a partir de pistas deixadas por um prisioneiro histórico do Paço de Sintra, numa experiência que fundiu memória, jogo e arquitetura.

O fim de semana prolongou-se com a última Ghost Experience no Convento dos Capuchos, onde a figura de Frei Honório de Santa Maria reapareceu num percurso sensorial que devolveu à pedra o silêncio e o assombro que a definem, e terminou com uma travessia pela Tapada de D. Fernando II, em bicicleta ou a pé, marcada por desafios que recordaram a dimensão física e natural do património.

SINTRA (AINDA MAIS) MÁGICA

O ano termina com uma outra celebração, distinta mas complementar. A Sintra Mágica – Era uma vez um Natal Mágico inaugurou em 1 de dezembro com uma imagem inédita do território: as iluminações de quatro monumentos — Palácio Nacional de Sintra, Palácio Nacional da Pena, Palácio Nacional de Queluz e Quinta da Regaleira — acenderam em simultâneo, criando uma geografia luminosa que uniu a serra e a vila num gesto simbólico de grande impacto público.

A programação decorre já em pleno e prolonga-se até 6 de janeiro, sustentando uma quadra natalícia que articula património e imaginação com invulgar coerência. A iluminação cénica integral da Pena, visitável à noite gratuitamente, nos dias 4,5,11,12,13,18,19,20,26 e 27 de dezembro, confere ao palácio uma presença quase mítica na paisagem.

A Vila recebe o público num ambiente festivo cuidadosamente desenhado para preservar a dignidade do Terreiro do Palácio Nacional, agora ocupado por um carrossel tradicional, uma árvore de Natal com dezasseis metros, música criada para a ocasião e ateliers pensados para famílias. O video mapping projetado sobre a fachada do Palácio da Vila transforma o edifício na maior fábrica de Natal do concelho, com bonecos mecânicos, bailarinas e comboios a ganhar vida digital, num diálogo entre tecnologia, fantasia e património.

Durante o mês, o espírito natalício espalha-se por Queluz, que também apresenta um espetáculo de vídeo mapping, pelo Parque da Pena, pelo Convento dos Capuchos, pelo Paço dos Ribafria e por vários pontos da vila, com concertos, teatro, exposições e atividades que ampliam a relação entre comunidade e território. A programação completa pode ser consultada em www.sintramagica.pt.

Todas estas iniciativas, desde o aniversário UNESCO, à distinção internacional nos World Travel Awards, programa Sintra PH30 e temporada natalícia Sintra Mágica, revelam um território que reforça a sua identidade ao projetar-se para o futuro. Sintra combina autenticidade e inovação com uma naturalidade que lhe é própria.

A serra continua a ser lugar de espanto, mas é também espaço de planeamento rigoroso, de investigação científica, de criação cultural e de encontro comunitário. O património vive na forma como se cuida, na forma como se comunica e na forma como se abre ao público.
Três décadas depois, Sintra reafirma a sua capacidade de transformar quem a visita e quem nela vive.

O aniversário não se encerra em celebrações. Torna-se ponto de partida para o que virá. A serra guarda memórias antigas, mas projeta-se como paisagem de futuro. E continuará a fazê-lo enquanto houver mãos, olhos e pensamento capazes de a reconhecer como um dos lugares essenciais da cultura portuguesa.

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