UMA MEMÓRIA COLETIVA QUE CONTINUA A SER PRESERVADA

UMA MEMÓRIA COLETIVA QUE CONTINUA A SER PRESERVADA

O Município de Mogadouro é rico em tradições e património cultural, que fazem com que, atualmente, seja uma atração para turistas nacionais e internacionais. Em entrevista à Portugalidade Magazine, António Joaquim Pimentel, Presidente da Câmara Municipal de Mogadouro, conta o que está a ser feito para tornar a cidade raiana num território de referência no estudo e valorização dos rituais e Máscaras de Inverno.

As Máscaras de Inverno e os rituais ligados ao solstício são um dos elementos mais emblemáticos da cultura popular do Nordeste Transmontano. Como descreve a importância destas tradições para o concelho de Mogadouro?

Estas tradições representam uma das expressões mais profundas da nossa identidade. As máscaras, os sons, os rituais e a relação com o ciclo agrícola são marcas de uma memória coletiva que soubemos preservar. Em Mogadouro, estes rituais não são apenas uma manifestação festiva, são um testemunho vivo da nossa história e uma forma de manter viva a ligação entre gerações.

Nos últimos anos tem havido um crescente interesse turístico por este tipo de manifestações. De que forma o concelho tem beneficiado deste fenómeno?

O impacto tem sido muito positivo. O turismo cultural é hoje uma das áreas mais procuradas e as Máscaras de Inverno têm atraído visitantes nacionais e estrangeiros. Este movimento gera dinamismo económico, fortalece o comércio local, incentiva a restauração e a hotelaria e contribui para a valorização das aldeias. Estamos a trabalhar para que este interesse se mantenha ao longo de todo o ano e não apenas no período festivo.

O Encontro de Rituais Ancestrais, realizado anualmente na aldeia de Bemposta, tem ganho notoriedade. Qual é o papel do Município neste evento?

O Município assume um papel central na organização e no apoio logístico e financeiro. Este encontro é um momento de grande visibilidade para o concelho, reunindo grupos ibéricos e promovendo um diálogo cultural que reforça o valor das nossas tradições. O patrocínio municipal garante que o evento continue a crescer, preservando a autenticidade dos rituais e oferecendo ao público uma experiência cultural única.

Há referência a projetos estruturantes relacionados com este património. Pode explicar-nos o que está a ser feito?

Estamos a desenvolver vários projetos que visam consolidar Mogadouro como um território de referência no estudo e valorização das máscaras e rituais de Inverno. Um dos mais importantes é a candidatura apresentada ao Turismo de Portugal para a criação da Casa da Máscara Ibérica, um espaço museológico e interpretativo dedicado à investigação, exposição e dinamização cultural, que ficará localizado na aldeia de Bemposta. Este equipamento pretende ser um polo atrativo durante todo o ano, com impacto direto no turismo e na economia local.

Existe também o objetivo de alcançar reconhecimento internacional para estas tradições. Em que ponto está esse processo?

Estamos a trabalhar numa candidatura para a classificação das máscaras rituais do concelho de Mogadouro como Património Cultural Imaterial da UNESCO. É um processo exigente, que implica investigação rigorosa, documentação etnográfica e envolvimento das comunidades, mas acreditamos plenamente no valor universal deste património. O reconhecimento internacional seria um passo decisivo para a sua preservação e para a projeção do concelho no panorama cultural global.

Que mensagem gostaria de deixar às comunidades que mantêm vivos estes rituais?

A minha mensagem é de profundo agradecimento. São as pessoas das aldeias, os grupos, as famílias e os mais velhos que mantêm acesa esta tradição. Sem o seu empenho, nada disto seria possível. O Município está ao lado de todos, determinado a preservar, valorizar e promover aquilo que é genuinamente nosso.

A Casa da Máscara Ibérica – Centro de Interpretação localizar-se-á num edifício situado na Rua do Castelo, na Freguesia de Bemposta, Concelho de Mogadouro. Apelidada pela tradição local de “Mina do Inferno” ou somente de “Inferno”, no passado, o edifício era o ponto de início da tradição do “Chocalheiro de Bemposta”. O bianual ritual iniciava-se no “Inferno”, com a saída da figura do Chocalheiro do edifício para as ruas de Bemposta. Atualmente, em avançado estado de degradação, foi reconhecida a necessidade de conservar o edifício pela comunidade local, atendendo ao valor histórico e cultural que lhe foi atribuído.
No que diz respeito ao sistema construtivo proposto, procura-se propositadamente um visível contraste entre a estrutura tradicional preexistente e as alterações contemporâneas, sem comprometer uma boa integração urbana e paisagística. O projeto prevê preservar a alvenaria de granito pré-existente. Neste sentido, pretende-se que a obra de reabilitação da Casa da Máscara Ibérica – Centro de Interpretação seja um modelo-exemplo do princípio de respeito pela estreita relação entre a intervenção de requalificação e o território envolvente.

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