A Herança Judaica e o Turismo no Centro de Portugal

A Herança Judaica e o Turismo no Centro de Portugal

O Turismo Espiritual e Religioso assume um papel de grande destaque na promoção do Centro de Portugal. Percebe-se por que assim é. Esta é, sem dúvida, a região do país com mais polos de interesse a este nível, com lugares de culto que propiciam a paz interior e espiritual.

Sendo incontornável a importância de Fátima a este nível, uma vez que é um Altar do Mundo que atrai milhões de cristãos todos os anos, a região testemunha o florescimento de dois produtos turísticos religiosos em ascensão: os Caminhos Portugueses de Santiago e o património judaico, que destaco por ser o tema desta revista.

A presença judaica na região Centro antecede o Cristianismo. No entanto, após séculos de perseguições, o culto judaico permaneceu clandestino até tempos recentes, quando finalmente se abriu para as comunidades vizinhas. Hoje, é possível explorar os destinos que revelam a grande riqueza do Centro de Portugal Judaico.

O território da Serra da Estrela preserva vestígios significativos dessa presença, destacando-se Belmonte, lar da última comunidade criptojudaica nesta parte da Europa. A singularidade dessa comunidade, que manteve os seus ritos, orações e relações sociais em segredo por séculos, resistindo à perseguição movida pela Inquisição, confere-lhe um interesse particular. Na verdade, como não mantiveram contacto com outras comunidades, os judeus de Belmonte acreditaram, durante séculos, que eram os únicos sobreviventes deste povo em todo o mundo. O Museu Judaico de Belmonte oferece uma visão obrigatória dessa história fascinante.

A Rota das Antigas Judiarias da Serra da Estrela, porém, é bastante mais vasta, abrangendo locais como Celorico da Beira, Covilhã, Fundão, Gouveia, Guarda, Linhares da Beira, Manteigas, Penamacor, Pinhel ou Trancoso, todos eles testemunhos tangíveis da presença judaica em elementos como arquitetura, toponímia e comércio.

Num passado recente, a região serrana voltou a ser um porto seguro para os judeus perseguidos, já que muitos dos que receberam vistos passados pelo cônsul Aristides Sousa Mendes chegaram a Portugal através da fronteira de Vilar Formoso – onde é também obrigatória uma visita ao museu Fronteira da Paz.

O património judaico é, pois, um produto turístico em grande crescimento na região e revela um grande potencial de atração de turistas, que chegam de Israel, dos Estados Unidos e de muitos outros países. Acresce que são visitantes com significativo poder de compra, contribuindo positivamente para as economias locais.

Tomei recentemente posse como presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal, tendo assumido, entre outros objetivos, a aposta de manter a região na linha da frente do crescimento turístico, oferecer aos visitantes cada vez mais motivos para quererem voltar e garantir aos empresários do setor as melhores condições para que o seu esforço alcance os retornos merecidos.

O Turismo Religioso é um dos principais ativos turísticos da região – ao lado do património, da História, da natureza, do turismo ativo e desportivo, da gastronomia e dos vinhos e, acima de tudo, das pessoas – que me levam a acreditar que os objetivos serão alcançados. O Centro de Portugal está destinado a continuar a crescer acima da média nacional, como tem acontecido nos anos mais recentes.

Raul Almeida

Presidente da Entidade Regional de Turismo do Centro de
Portugal

Opinião